Como entender os enunciados no vestibular

Profº Rogério Souza / 1 day ago 08/08/2013

Atualmente, verifica-se grandes mudanças nas provas de vestibular. Se antes privilegiava-se o “decoreba”, hoje se estimula o pensar e as provas possuem questões que se relacionam de forma íntima. Invariavelmente, enunciados de uma questão podem ajudar na compreensão e resolução de outras. A leitura deste texto, portanto, trará um pouco mais de luz a esta questão visto que a Língua Portuguesa fornece ferramentas que contribuirão bastante no entendimento dos enunciados.

A linguagem permeia praticamente todas as ações que praticamos cotidianamente. Como afirma o linguista Marcuschi (2008), as atividades sociais e cognitivas que realizamos e que são marcadas pela linguagem são sempre colaborativas, e não atos individuais. Para que sejam compreendidas, dependem de um processo de cooperação mútua. Portanto, a compreensão de um texto, seja ele oral ou escrito, não é um simples ato de identificação de informações, mas uma construção de sentidos com base em atividades inferenciais. As inferências são essenciais porque funcionam como provedoras de contexto integrador para informações e estabelecimento de continuidade do próprio texto, dando-lhe coerência. Elas funcionam como hipóteses coesivas para o leitor processar o texto. Partindo da informação textual e considerando o respectivo contexto, o leitor constrói uma nova representação de sentido. As inferências que o leitor faz podem introduzir informações às vezes mais salientes do que as que o próprio texto traz.

Segundo Isabel Sole, a leitura é um processo no qual “o leitor é um sujeito ativo que processa o texto e lhe proporciona seus conhecimentos, experiências e esquemas prévios”. Nesse sentido, cabe ao leitor atribuir sentido(s), ou seja, atualizaras informações contidas no texto, segundo informações atinentes ao seu conhecimento prévio, não bastando simplesmente decodificá-lo.”

Observe, por exemplo, a tirinha a seguir.

Nessa tirinha, conhecimentos de diferentes naturezas entram em ação para que se possa compreendê-la. Além da decodificação do código linguístico, do reconhecimento do sentido das palavras, do conhecimento relativo aos propósitos da produção de tirinhas publicadas em jornais diários, entre outros, há inferências que levam à construção dos sentidos da leitura desse texto. A presença de uma criança usando um capuz e tendo um cestinho na mão, de um lobo e de uma avó deitada em uma cama levam a deduzir que a tirinha retoma, em um diálogo intertextual, o conto infantil “Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau”. No primeiro quadrinho, Chapeuzinho se assusta ao ver o lobo, como ocorreria também com a criança do conto original. Em lugar de atacá-la, o lobo acalma-a, apresentando-se como o lobo bom. Deduz-se, então, que existe um lobo que é mau, reforçando a hipótese de retomada do conto infantil. Com a fala da avó, deduz-se que ela está entediada diante de um lobo bom que fica a lhe ensinar arranjos florais. Ela revela preferir o lobo mau, possivelmente porque com ele pode experimentar fortes emoções, ainda que seja o medo.

Como você já sabe, as provas de Língua Portuguesa, aplicadas na escola ou em situações de avaliação externa, sejam concursos vestibulares ou não, quase sempre apresentam um texto, verbal, não verbal ou misto, sobre o qual são propostas questões que tratam da interpretação e da compreensão, podendo estas também abordar aspectos gramaticais ou servir de base para a produção de uma redação. Além disso, a leitura também é cobrada em questões que abordam as obras literárias indicadas para o concurso. Na grande maioria das provas de Língua Portuguesa, somadas todas as questões, percebe-se que cerca de 80% delas tratam de interpretação/compreensão de textos, portanto, é ao desenvolvimento das habilidades de leitura que você deve dedicar-se mais ao se preparar para esses exames. Ademais, pode-se dizer que essas habilidades são primordiais nas provas de todas as disciplina