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domingo, 1 de setembro de 2013

Discurso dissertativo de caráter científico

Vamos falar um pouco sobre gênero textual e vermos como é que funciona o discurso nos textos dissertativos de caráter científico.
Observe :
a) A inflação corrói o salário do operário.
b) Eu afirmo que a inflação corrói o salário do operário.
Os dois enunciados acima pretendem transmitir o mesmo conteúdo: a inflação corrói o salário do operário.
Há, no entanto, uma diferença entre eles. No primeiro, o enunciador (aquele que produz o enunciado) ausentou-se do enunciado, não colocando nele nem o "eu", que indica aquele que fala, nem um verbo que significa o ato de dizer. No segundo, ao contrário, ao dizer "eu afirmo", o enunciador inseriu-se no enunciado, explicitando quem é o responsável por sua produção. No primeiro caso, pretende-se criar um efeito de sentido de objetividade, pois se enfatizam as informações a serem transmitidas; no segundo ,o que se quer é criar um efeito de sentido de subjetividade, mostrando que a informação veiculada é o ponto de vista de um indivíduo sobre a realidade.
dúvidas sobre pronomes relativos
O discurso dissertativo de caráter científico deve ser elaborado de maneira a criar um efeito de objetividade, pois pretende dar destaque ao conteúdo das informações feitas (ao enunciado) e não à subjetividade de quem as proferiu (ao enunciador). Quer concentrar o debate nesse foco e por isso adota expedientes que, de um lado, procuram neutralizar a presença do enunciador nos enunciados e, de outro, põem em destaque os enunciados, como se substituíssem por si mesmos.
Para neutralizar a presença do enunciador, isto é, daquele que produz o enunciado, usam-se certos procedimentos linguísticos, que passaremos a expor:
a) Evitam-se os verbos de dizer na primeira pessoa (digo, acho, afirmo, penso, etc.) e com isso procura-se eliminar a ideia de que o conteúdo de verdade contido no enunciado seja mera opinião de quem o proferiu
Não se diz , portanto:
Eu afirmo que os modelos científicos devem ser julgados pela sua utilidade.
Mas simplesmente:
Os modelos científicos devem ser julgados pela sua utilidade.
b) Quando, eventualmente, se utilizam verbos de dizer, são verbos que indicam certeza e cujo sujeito se dilui sob a forma de um elemento de significação ampla e impessoal, indicando que o enunciado é produto de um saber coletivo, que se denomina ciência. Assim, o enunciador vem generalizado por "nós" em vez de "eu" ou oculto:
Temos bases para afirmar que a agricultura constitui uma alternativa promissora para a nossa economia.
ou,
Pode-se garantir que a agricultura...
ou ainda ,
Constata-se que a agricultura...
Em geral, não se usa a primeira pessoa do singular no discurso científico.
c) A exploração do valor conotativo das palavras não é apropriada ao enunciado científico. Nele, os vocábulos devem ser definidos e ter um só significado. Num texto de astronomia, "lua" significa satélite da Terra e não uma sonora barcarola ou astro dos loucos e enamorados.
d) Deve-se usar a língua padrão na sua expressão formal, não se ajusta a ele o uso de gírias ou quaisquer usos linguísticos distanciados da modalidade culta e formal da língua.
Vamos expor alguns expedientes que servem para fundamentar esse tipo de enunciado e aumentar seu poder de persuasão.
e) A argumentação pode basear-se em operações de raciocínio lógico, tais como as implicações de causa e efeito, consequência e causa, condição e ocorrência, etc.
f) Pode-se desqualificar o enunciado científico atribuindo-o à opinião pessoal do enunciador ou restringindo a universidade da verdade que ele afirma.
Roberto supõe que o espaço social brasileiro se divida em casa, rua e outro mundo.
Como se pode notar, ao introduzir o enunciado por um verbo de dizer (supõe) que não indica certeza, reduz-se o enunciado a uma simples opinião.
Observe-se ainda outro exemplo :
O átomo foi considerado, por muito tempo, como a menor partícula constituinte da matéria.
Não é preciso dizer que o verbo (foi considerado) e a restrição de tempo (por muito tempo) esvaziam o enunciado do seu caráter de verdade geral e objetiva.
g) Ataque ao expediente de argumentação, veja :
  • citando autores renomados que contrariam o conteúdo afirmado no enunciado ou evidenciando que o enunciador não compreendeu o significado da citação que fez;
  • desautorizando os dados de realidade apresentados como prova ou mostrando que o enunciador, a partir de dados corretos, por equívoco de natureza lógica, tirou conclusões inconsequentes.
Ex.: O controle demográfico é uma das soluções urgentes para o desenvolvimento dos países subdesenvolvidos: as estatísticas comprovam que os países desenvolvidos o praticam.
Desqualificação:
O dado estatístico apresentado é verdadeiro, mas o enunciado é inconsistente, pois pressupõe uma relação de causa e efeito difícil de ser demonstrada, isto é, que o controle demográfico seja capaz de produzir o desenvolvimento. O mais lógico é inverter a relação: o desenvolvimento gera o controle demográfico, e não o contrário.

Um comentário:

  1. nossa adorei era isto mesmo que estava procurando foi de grande proveito obrigado

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